Powered By Blogger

domingo, 12 de junho de 2011

Finanças Comportamentais I

Finanças Comportamentais

A fragilidade da hipótese dos mercados racionais é comprovada com várias estatísticas do mundo real – 90% dos investidores que começam a operar na bolsa de valores não obtêm o sucesso esperado e retornam para a renda fixa.
Então, a teoria que levanta a hipótese de um mercado racional onde seus agentes tomam sempre a melhor decisão baseado em informações disponíveis pode e deve ser discutida.
As Finanças Comportamentais vão buscar no processo evolutivo humano a resposta a tomada de decisão irracional dos agentes de mercado, já que a informação e os modelos econômicos estão ao alcance de todos os investidores.
Essa suposta eficiência dos mercados encontra seu ponto fraco em tendências comportamentais inatas e na sua maioria inconscientes relacionadas ao próprio processo evolutivo do ser humano.
O processo de tomada de decisão passa por três fases: Percepção, Avaliação e Decisão. A teoria comportamental sustenta que as duas primeiras fases são fortemente influenciadas por fatores emocionais relacionados ao processo evolutivo humano e em sua grande parte, inatos e inconscientes que levam o investidor a tomar decisões fora do campo da racionalidade da teoria econômica.
Pesquisa realizada na Universidade de Cambridge revelou que os três principais medos das pessoas, em escala mensurada de 0 a 100, são: medo de falar em público (80%), medo de não ter recursos financeiros suficientes para o sustento (69 %) e medo da morte (65%). O resultado do estudo revela que o medo quanto ao futuro financeiro é maior que o medo de morrer, o que leva o investidor a ter aversão a perder dinheiro.

A primeira tendência comportamental que tem influência no processo decisório de investimentos é a Representatividade. E o que vem a ser representatividade? Informações recebidas no presente ou em um passado recente têm grande influência em nossa capacidade de julgamento.
Uma das ferramentas de controle de risco é a diversificação e balanceamento da carteira. O investidor coloca porcentagens fixas em aplicações de renda variável e renda fixa. Por exemplo, após a análise de meu perfil e meus objetivos, resolvo colocar 30% em renda variável (Bolsa de Valores) e 70% dos meus investimentos em renda fixa. Ao ler nos jornais que a Bolsa de Valores está se valorizando e se realmente acontecer o aumento do valor das ações, a porcentagem em renda variável aumentará em minha carteira. Entretanto, influenciado pela ganância e pela informação recente de alta dos mercados, a pessoa não realiza o rebalanceamento da carteira, o que possibilitaria vender as suas ações na alta e, em um movimento inverso, comprar as ações na baixa – procedimento tão básico, mas tão difícil de ser executado devido a influência fator da Representatividade na tomada de decisão.

O segundo fator a ser estudado é o que a teoria comportamental das finanças convencionou chamar de Saliência. O que vem a ser saliência?
Saliência diz respeito a fatos raros que saltam aos olhos do observador devido a grande exposição na mídia e se não tivessem recebido esse tratamento dos jornais provavelmente não deveriam ter importância no processo decisório devido a pouca aderência que deveria ter na fase de julgamento. Ocorre porque as pessoas dão maior importância a histórias do que a estatísticas.
Exemplo típico são os acidentes aéreos que são amplamente repercutidos na mídia e que, após a sua ocorrência, verifica-se um aumento significativo no cancelamento das passagens aéreas. Recorrendo a estatística, verificamos que existe uma probabilidade de 0,0000028% de um segundo avião da mesma empresa cair, portanto, a decisão de cancelamento da passagem aérea não é um comportamento racional.
O fator da saliência está fortemente relacionado ao contágio, que pode ser explicado no exemplo anterior, quando as pessoas cancelam também as passagens de outras companhias aéreas.

O terceiro fator a ser discutido é o movimento de Manada, que se justifica no comportamento inato de tomar a decisão mais fácil que neste caso é seguir o grupo, além claro da tendência comportamental de seguir as decisões do grupo.

Vamos estudar as bolhas de mercado à luz dos fatores até agora discutidos.
O primeiro fator age nas bolhas de mercado quando o investidor verifica que as ações estão subindo, então, ele extrapola para o futuro que as ações continuarão a subir. Quando a mídia começa a noticiar os grandes ganhos com o mercado ocorre o segundo fator comportamental (Saliência), onde o relato de pessoas que estão ficando ricas com o mercado tem maior influência do que os fatores estatísticos (aumento dos ativos que não se sustentam em fundamentos econômicos). Ninguém quer ficar de fora, então começam a comprar motivadas pela força do grupo (Efeito de Manada).
Importante ressaltar que o maior combustível para o efeito de manada é o medo de ficar pobre enquanto membros de sua comunidade estão enriquecendo.
Encerramos por aqui esse artigo, importante salientar que todas as informações foram retiradas do excelente livro de Aquiles Mosca, Finanças Comportamentais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário